MEMORIAL DA 'SHOAH'

 

Bologna, Itália, 2015

 

Concurso internacional

Com Luís Soares e Paulo dos Sousa

A concepção de um espaço de memória para um evento com o alcance do Holocausto (Shoah) está destinada a ser uma tarefa pouco convencional. A escala, crueldade e irracionalidade deste mortífero episódio tornam difícil veicular claramente o seu horrífico significado. Um monumento singular “clássico” seria demasiado limitado e ao mesmo tempo demasiado próximo a uma tipologia “comemorativa”, algo inadequado face à natureza do acontecimento.

Uma experiência carregada de simbolismo surge como mais apropriada para lembrar a essência desta memória e ajudar as novas gerações a conhecer e reflectir nesta página negra da História.

A proposta procura ser um elemento contrastante na paisagem urbana, tirando partido das características do local de forma a chamar a atenção para si própria e para o que representa. Colunas dispersas “agarram” o sítio, gerando um forte impacto visual que tenta despertar a curiosidade dos passantes e, uma vez no seu interior, transportá-los para uma realidade diferente. A dispersão de elementos segue um princípio de crescente densidade que remete simbolicamente para a escalada de eventos anti-semitas que culminou no Holocausto. Quem aí circula é tomado de um sentido de desorientação. A atmosfera inquieta deste espaço intersticial torna-se cada vez mais apreensiva conforme se aproxima do espaço por detrás das duas paredes existentes que dividem a praça.

No meio do espaço traseiro, onde a presença das colunas atinge o clímax, emerge um vazio – uma clareira nesta impositiva floresta, simbolizando a resistência das vítimas que sobreviveram a tragédia e ultimamente a derrota das intenções de uma ideologia criminosa. É portanto intencionalmente um momento de calma e introspecção no complexo, o ponto onde a Esperança e a Paz podem regressar. Apenas o céu será visível para lá da cortina de postes. Levanta-se uma oliveira – um forte símbolo em si mesma – mostrando que a Vida vinga, apesar das condições adversas.

As colunas têm alturas variáveis, tomando parte numa única composição tri-dimensional. Estes postes pré-fabricados não necessitam ter uma resistência estrutural especial pois não têm qualquer função de suporte, poupando assim no peso e material. A exposição aos elementos atmosféricos dará diferentes identidades às peças, escorrendo um tom ferrugento na sua superfície. Desta forma a natureza do monumento evoluirá ao longo dos anos em direcção a um aspecto mais expressivo. Também pretende transcender o sentido visual e o cenário diurno. Orifícios diferentes nas colunas aproveitam o vento para produzir silvos que enfatizam a singularidade do espaço. Durante a noite cada coluna poderá iluminar subtilmente a área, conferindo-lhe uma aura única e solene.

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